Gabriela Iurcev, A Lisboa de Fernando Pessoa. Poética e geocrítica dos espaços desassossegados, Viseu, Edições Esgotadas, 2021.
A categoria espacial na literatura sempre revestiu uma importância secundária em relação à do tempo, sendo desenvolvidas somente na segunda metade do século XX teorias literárias a este propósito. Com base nas obras literárias “Livro do Desassossego” e “Lisbon: What the Tourist Should See”, espaço e lugar são analisados respectivamente através da lente poética de Gaston Bachelard e da lente geocrítica de Bertrand Westphal. Em Bernardo Soares não se criam espaços ex novo, são buscados os espaços poéticos bachelardianos, para demostrar que o lugar físico – a cidade de Lisboa – influencia a criação dos espaços simbólicos. A partir de Bachelard são levados em conta não lugares de Lisboa, mas espaços em Lisboa. Já em Fernando Pessoa e Westphal, a partir das ferramentas geocríticas quais intertextualidade, multifocalização, polissensorialidade e estratigrafia, a análise se concentra nas coordenadas geográficas e espaciais da capital portuguesa, para provar que um determinado referente pode até permanecer o mesmo geograficamente ou fisicamente, mas se torna inúmero diante de inúmeras prospetivas. Nesse sentido, a literatura se torna um elemento preservador da compossibilidade dos universos. A relação que existe entre lugares físicos e espaços metafísicos, por mais indireta que seja, é imprescindível: Lisboa é o palco das manifestações intangíveis do eu poético. A capital portuguesa permanece o centro da elaboração das obras do semi-heterónimo Bernardo Soares e do grande Fernando Pessoa, tanto metaforicamente bem como literalmente.
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